Dá para viver de Software Livre – II

Verificando websites de empregos e vagas na área de informática, podem ser observados dois fenômenos interessantes que estão ocorrendo há algum tempo: a redução de vagas para profissionais “simplistas” ou “genéricos” e o aumento gradativo, mas constante, da necessidade daqueles que conhecem os chamados softwares livres, seja nas áreas de desenvolvimento, segurança ou de infra-estrutura (redes e servidores).

Há pouco tempo, esta mão-de-obra era conhecida como “os acadêmicos da computação”, pois o próprio software livre estava restrito a este meio, sendo usado como “experimento” ou pesquisa. Hoje entretanto, o mesmo se projetou maciçamente para dentro das corporações que, procurando por confiabilidade, robustez e segurança, iniciaram a procura de profissionais que atendessem esta necessidade premente de conhecimento para fornecer as soluções que a companhia necessita. Desta forma, existindo demanda, o profissional atento começa a se especializar nesta área a fim de poder atendê-la.

Muitos alunos e pessoas que conheço perguntam-me: ganha-se dinheiro com software livre? Ou ainda: é possível obter renda de algo que é gratuito e que todo mundo pode usar?

A resposta para as duas perguntas é um sonoro sim. Sim, ganha-se dinheiro com o software livre, mesmo sendo este gratuito e passível de qualquer um instalar e usá-lo.

Da mesma forma que o software proprietário, que necessita de profissionais conhecedores de suas entranhas para mantê-lo em funcionamento, para que seja instalado ou para que possa atender as nuances da manutenção, o software livre possui as mesmas pertinências. E quem mais indicado que aquele profissional especialista para executar o trabalho? Então, administradores de redes, profissionais de segurança de dados, programadores e tantos outros, se fazem necessários para instalar, manter e administrar um ambiente onde o software livre é regra ou simplesmente interopera com o software proprietário.

Uma outra pergunta (ou medo) que aparece é: “mas eu preciso devolver ao software livre o que fiz gratuitamente. Como posso ganhar dinheiro assim?”

Este é certamente o maior medo das pessoas; ver aquilo que desenvolveu sendo usado por outras pessoas sem pagamento por seu “direito autoral” e assim ver minguar sua fonte de renda. Nada mais descabido que pensar assim. Como exemplo, você pode trabalhar com um banco de dados proprietário sobre uma plataforma de software livre, manter seu emprego ou fonte de renda e contribuir com seus conhecimentos para todos.

Algumas pessoas não entendem (ou não querem entender) a mudança de paradigma onde o conhecimento humano se sobrepõe à autoria. Logo, pensar no modelo vigente de obtenção de lucros com a venda de “caixinhas” é algo não questionável por estar aquém do entendimento disto.

Resumindo, o produto (caixinha), deixa de ser commodity para dar lugar ao conhecimento. Você recebe pelo que conhece e por sua capacidade e não por um CD com algumas folhas impressas e uma caixa reluzente.

Profissionais nunca deixam de receber por seus conhecimentos, mas deixam de vender caixinhas por motivos como falta de demanda, custo alto, pirataria e outros tantos que vão minando o modelo e aqui sim, fazendo com que se possa perder o sono por observar a torneira do lucro fácil sendo fechada.

E o mercado de trabalho?
Existe, hoje pequeno mas existe. É certo que a demanda atual é menor que a de software proprietário, mas paulatinamente vai crescendo e se tornando uma ótima oportunidade para aqueles que, além de procurarem dar uma guinada na profissão, acreditam que o conhecimento deva ser compartilhado com os semelhantes e não na mão de poucos.

As áreas que hoje possuem uma grande demanda de profissionais são aquelas relacionadas à infra-estrutura de servidores e serviços, desenvolvimento de aplicações para Internet e segurança de dados. Em qualquer uma delas, seus conhecimentos já obtidos serão de grande valia pois, na maioria das vezes, tem-se a necessidade de comunicação dos novos sistemas e aplicações com aquelas já existentes, as quais, na quase totalidade, são baseadas em software proprietário.

Também é interessante ver as opções de trabalho dentro da área que atua hoje como por exemplo, um DBA que pode se especializar em plataformas de software livre, não deixando de lado a sua ferramenta ou aplicativo original.

Cursos e certificação
Da mesma forma que no software proprietário, existem tanto cursos como certificações no software livre. Muitas faculdades e universidades (inclusive a FIAP) já estão disponibilizando cursos de extensão universitária, pós-graduação e até mesmo graduação dentro desta área. As certificações, ao contrário do software proprietário, podem ser obtidas tanto para uma distribuição (empresa) quanto para o todo, abrangendo os conceitos e não as ferramentas.

Além disto, várias empresas de treinamento já possuem cursos para profissionais que desejam se reciclar ou aprender a trabalhar com o software livre. Vale a pena pesquisar não somente preços, mas principalmente o currículo oferecido pois em algumas destas empresas, não passa do básico os conhecimentos obtidos.

Enfim, o software livre não é moda, não é onda. Mas é certamente uma tendência, não somente no Brasil mas em todo o mundo. Cada vez mais empresas vão tendo a certeza que ele deixou de ser uma “brincadeira” de nerds e acadêmicos para se tornar uma ferramenta excepcional para a redução de custo e aumento da confiabilidade dos sistemas. Então aproveite e comece a conhecê-la já. Quem sabe em algum tempo não estará também trabalhando com “pinguins, golfinhos e elefantes”?