Um ano novo diferente para sua carreira

Acabou a faculdade e está com aquela coceira para fazer algo diferente? Quer dar um novo rumo para sua vida e carreira? Então que tal enfrentar o medo e tentar algo fora do país? Oportunidades não faltam para quem é bom, não só profissionalmente.

Começo de ano sempre é uma beleza. Aquele monte de promessas feitas no furor das águas abençoadas por Iemanjá e regadas a enormes goles da mais gelada cerveja brasileira faz o sonho de todos nós. Seja parar de fumar (uma das promessas que não mais faço), trocar de emprego, trocar de carro, emagrecer, engordar, deixar as baladas de lado, comprar uma casa, estudar e assim por diante. Muitas delas vão passar ao largo nos próximos 365 dias e por mais que sejam planejadas, não serão executadas. Outras ainda, por questões de timidez no pedido, serão resolvidas nos primeiros meses, deixando o resto do ano para as coisas enfadonhas do dia a dia.

Então que tal aproveitar um pouco desta vontade de mudança que o ano novo encerra e tentar algo mais alto, mais distante, inclusive aproveitando o boom da procura de profissionais em várias áreas como PHP? Que tal dar uma cor diferente para sua vida e seu curriculum com uma experiência no exterior? Difícil? Impossível? Que nada, é só querer.

Senta que lá vem história
Acredito que este seja um dos meus últimos artigos escritos em solo brasileiro durante os próximos dois anos. Por uma fatalidade ou conjunções do destino, tive a grata satisfação de ser escolhido como um dos desenvolvedores brasileiros que trabalham numa pequena ilha da Ásia chamada Timor Leste criando softwares para o governo daquele país sob a batuta da ONU. Sem sombra de dúvidas uma responsabilidade e tanto com uma grande dose de coragem para deixar nosso “samba, suor e cerveja” por um bom período a fim de enfrentar tsunamis, terremotos e, quem sabe, alguns ciclones (lógico que dropar as ondas da Indonésia também faz parte do pacote).

Alguns vão dizer: “mas o cara é muito bom mesmo!”, ou ainda, com uma enorme dor-de-cotovelo, “sortudo, nasceu em berço de ouro”. Nenhum dos dois comentários é verídico. O que aconteceu realmente foi um conjunto de fatores que juntos me levaram onde estarei a partir do dia 15 de janeiro deste ano. Trabalhos anteriormente executados, bom curriculum técnico, conhecimento de idiomas e, para aqueles que acreditam, um pouco de toque divino fizeram com que alguns sonhos se realizassem em 2006 desaguando num ótimo ano novo.

No começo de 2006 resolvi que iria para a Austrália participar da Linux.conf.au, o terceiro maior evento de software livre do mundo. Na verdade esta participação era uma desculpa para ir à Austrália. Sempre tive fascínio pelo país dos cangurus e de Midnight Oil com seu rock “aborígene” e comecei a pesquisar quanto precisava de dinheiro, quanto tempo ficaria, visto e outros “poréns”. No meu inconsciente estava colocando uma meta para mim mesmo e teria que executá-la de alguma forma. Este foi o primeiro passo para a realização.

Logo depois, antes do término do primeiro semestre, uma formiguinha começou a cutucar: “por quê não passar uma temporada fora do país trabalhando, estudando, conhecendo novas culturas e viajando?” Bom demais não é? Claro, mas o problema é que sou pobre e nasci em família pé rapada. Então para realizar o desejo, teria que ser com minhas próprias mãos, muita conversa e claro, mostrar para que estava indo, caso contrário não colocaria o pé para fora da ala internacional de qualquer aeroporto do mundo. Então, com constantes sessões de urticária, ao planejamento de como fazer isso (agora vem a parte boa).

Antes de tudo, o que fazer?
Desculpe-me os mais afoitos e os mais crédulos mas uma empreitada deste porte começa com uma pergunta simples que precisa de uma resposta simples: “o que quero fazer?” A resposta deve ser a mais honesta possível para que depois não existam frustrações de nenhum tipo e a experiência não se torne uma cicatriz profunda.

Assim se a vontade é trabalhar para poder viajar pelo mundo colecionando carimbos no passaporte, você deve pensar em trabalhos freelance principalmente na Europa. Pagam melhor e aceitam este tipo de condição tranquilamente. Além disso, você terá pelo menos 40 países para visitar com passagens aéreas baratinhas e sem caos nos aeroportos. Mas se o desejo é estudar, melhorar ou aprender um novo idioma e fazer uma graninha, procure outras opções, digamos, mais sólidas de trabalho em países como Índia, Estados Unidos ou Alemanha. Normalmente os empregadores custeiam os estudos (parte ou no todo) e você pode, com algum esforço, conseguir guardar um pouco para comprar um carro quando voltar.

Respondida a pergunta (honestamente), vamos ao planejamento e execução.

O que é preciso?
Sem entrar na seção “empírica” ou “como fazer mala”, o que você precisa para estar lá fora resume-se naquilo que você tem hoje com uma lapidada e um toque de ousadia. Esqueça os grandes gurus do show business atual que pregam a necessidade de MBA, PH.d, PQP ou coisa similar. Não estamos procurando emprego no Google da Suíça ou na Novell dos Estados Unidos. Estamos falando de outra coisa totalmente diferente: uma oportunidade para você dar uma volta e sentir um pouco como funciona o “lado de lá”. Então, ficar “batendo ficha” com australianos, noruegueses, ingleses e canadenses por causa de uma posição como esta é líquido e certo que seu barco não passa do porto de Santos. Foque no que deseja realmente, no que faz muito bem e siga em frente. Se é um ótimo designer, deve mostrar isso. Se é um eficiente programador em Perl, negrite esta parte de seu curriculum. O diferencial não será seu MBA da faculdade “são-qualquer coisa” que tirou naquelas noites de birita, mas sim sua capacidade de fazer diferente o que todos fazem igual. Não convenci ainda? Pois observe os pré-requisitos desta vaga na Índia para compreender o que as empresas procuram realmente (exceto aquelas anacrônicas e almofadinhas).

Adicionalmente às suas qualificações técnicas será necessário saber inglês para ler documentação, responder e-mails, falar ao telefone e participar de reuniões. Isso se resume a 300 palavras (acredite!) e certamente duas semanas de caminhada em Londres são capazes de afiar muito o mais cego dos aprendizados de ensino médio. Também é necessário um portfólio, seja você um designer ou desenvolvedor. Se você é designer, já deve ter um. Se você é desenvolvedor, arrume um hosting qualquer e hospede os projetos que desenvolveu com usuários demos para que seus futuros empregadores possam conhecer o que você faz e do que é capaz. DOCUMENTE e mostre o código, isso dará confiança e também mostra que você não tem somente um papo legal.

Um ponto extremamente piegas para as empresas brasileiras mas que conta muito lá fora é sua vida pessoal e social. Mesmo as gigantes como Oracle e Google querem pessoas e não máquinas trabalhando. Mesmo parecendo estúpido, estes pontos derrubam muito nerd em boas oportunidades. Resumindo, se você gosta de cinema, assista filmes. Com certeza vão perguntar quais foram os últimos filmes que assistiu e você não poderá dizer que foi Rambo II pois se o fizer, a missão será sua de voltar para casa.

Documentos, sempre um problema
Da mesma forma que no Brasil, a maioria dos países possuem rígidas políticas de importação de mão-de-obra. Ou ela é qualificada e pouco encontrada no país, ou o cara é um gênio. Na maioria das vezes quando o empregador gosta de você e o deseja, ele faz todos os trâmites legais para sua estada no país. Entretanto, existem algumas excessões relacionadas ao tema:

  • Conhecimento de português – muitas vezes projetos necessitam profissionais que sabem português. Se encontrar uma vaga destas, certamente seu visto de trabalho está garantido (ou você acha que encontra-se um norueguês em cada esquina que fale português melhor que você?);
  • Conhecimentos de determinada tecnologia – programação de kernel, ferramentas específicas, applications server e outros “bichos estranhos” também podem garantir o visto de trabalho;
  • Dupla cidadania – se você vem de família européia, agradeça à seus ancestrais por isso. Aqueles que possuem dupla cidadania carregam junto um passe livre para quase a totalidade dos países do mundo, incluindo Estados Unidos, Canadá e Reino Unido;
  • Pequenos passeios – finalmente, uma opção não muito recomendada mas comumente usada principalmente na Europa é executar um trabalho por um período num país, viajar para outro, executar outro trabalho e assim por diante. Normalmente os empregadores fogem desta modalidade por problemas com a lei mas é possível encontrar algumas oportunidades principalmente em países do antigo bloco soviético (mas não recomendado, novamente frisando).

Se você não se encaixa em nenhuma destas opções e o empregador não consegue o visto de trabalho, somente saia de casa por sua conta e risco. Pode se dar bem? Sim, mas a probabilidade de “quebrar a cara” é alta.

Muito bem cara pálida, e agora?
Agora você junta coragem para enfrentar indiferença, exclusão e muitas vezes isolamento, variações de temperatura, comida, fuso horário e a saudade de casa, deixa seus documentos prontos (inclusive com a carteira de vacinação internacional) e procura oportunidades na web. Claro que atualizar o curriculum e versá-lo para inglês é obrigatório e não precisa ser lembrado (não é?). Feito isso, onde pode encontrar oportunidades interessantes:

  • Freelancers.net – um site inglês voltado para freelancers no Reino Unido. Tem a vantagem que somente empresas postam vagas, não aceitando agências ou agenciadores;
  • Freelance.com – uma rede de sites mundiais de trabalho freelance. Milhares de vagas onsite ou offsite para dezenas de países do mundo;
  • No Agencies Please – o próprio nome já diz, nada de agenciadores ou atravessadores. O negócio é direto com quem tem o trabalho e com que executa. Atende principalmente o Reino Unido e norte da Europa.
  • Caree India – Site voltado a empregos (não somente freelances) na Índia e alguns países próximos (Tailândia, Paquistão, etc);
  • ACTI – Portal das empresas de TI no Chile. Várias vagas para quem não quer ir muito longe de casa

Além destas opções, existem milhares de outros sites para a pesquisa. Uma pequena busca no Google pode retornar resultados para mais de uma semana de trabalho diante do micro.

Finalizando
O objetivo deste artigo não é incitar a fuga de cérebros para fora de nosso país e muito menos servir de mapa para o descobrimento das índias (literalmente inclusive). Seu objetivo é tentá-lo a descobrir um mundo novo e voltar para nossa terra com muito mais bagagem e conhecimento do que quando saiu. A maioria dos leitores somente chegará ao fim do artigo por mera curiosidade pois tem impecílios que o prendem aqui (os quais poderiam ser somente filhos e esposa). Outros irão descartá-lo pois não acreditam que seja possível algo de tal monta. Mas alguns irão enviar mensagens com perguntas sobre como levar adiante a vontade de colocar o pé na estrada. Àqueles que ficam, cabe a pergunta: temos como chegar a grandes objetivos se formos reféns da segurança e do conservadorismo? Creio que não.

Finalmente, se gostar da idéia, coloque-a em prática. Dificilmente irá se arrepender pois as experiências vividas, boas ou más, ficarão para sempre e poderá usá-la inclusive em seu curriculum no futuro. Pessoas com “visão de mundo” sempre são muito bem vindas em qualquer organização. De minha parte fica o convite para umas ondas na Ásia. Quem sabe não nos encontramos do lado de lá do planeta?

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