Em casa

Muitos na área de tecnologia sonham com a possibilidade de trabalhar em casa por todas as vantagens que o modelo de home office proporciona. Nada de gravatas ou conjuntinhos para estar apresentável para um zé-ninguém, nada de trânsito caótico (que tem a tiracolo sequestros relâmpagos, assaltos e furtos), nada de comida cara e malfeita, nada de reuniões intermináveis que levam ao lugar nenhum. Independência laboral, financeira e de ociosidade certamente é o santo graal de uma grande fatia dos profissionais.

Mas (e com um grande “mas”), isso é para poucos. A maioria não atinge este nirvana por não serem capazes de separar o trabalho do lazer e obrigação de folia, pensando muitas vezes que por estarem de chinelos e bermuda possuem uma credencial vip para trabalhar da forma que bem entendem, como desejam e quando querem. Ledo engano. O trabalho em casa (ou em qualquer lugar que não seja o escritório) exige muito mais do profissional que dentro de qualquer empresa, principalmente em disciplina, organização e responsabilidade, o que convenhamos não são características muito fortes no brasileiro.

Boa parte daqueles que naufragam quando navegam pelas águas do trabalho remoto ou do trabalho freelance sofre com o mote “casa de ferreiro, espeto de pau”. Poucos são os que conseguem organizar suas vidas para atender as tarefas que precisam ser realizadas diariamente, existindo inclusive aqueles que nem sabem o que são tarefas diárias. Simplesmente abrem o computador e começam a fazer o que dá na telha, sem método, sem processo, sem nada, até o momento que chegam a conclusão que o modelo não é para si e voltam para um escritório qualquer, para a mesma gravata, o mesmo trânsito, a mesma comida e a mesma rotina massacrante.

Parte do problema vem de berço. Ao contrário dos americanos que desde pequenos recebem o doutrinamento “no pain, no gain” e que empreender seja o que for é uma ótima opção para a vida, somos criados para sermos funcionários, públicos ou não, médicos ou advogados (será que por isso os profissionais dessas classes sempre estão atrasados?). Infelizmente por questões históricas, sofremos com cancros que nos deixam apáticos, fracos e oprimidos diante de um mercado de mobilidade, eficiência, realização e cheio de oportunidades incríveis que não se pode abraçar, restando somente babar na notícia do garoto que vendeu um aplicativo para o Yahoo! por 30 milhões de dólares aos 17 anos. Profundamente triste, para não dizer invejável.

Então não existe conserto? Sim, existe. Mas depende da pessoa se tornar um verdadeiro profissional e não um paraquedista (nada contra os paraquedistas de profissão, por favor) no mercado. Ter atitude não é sair do armário ou mesmo escrever bravatas nas redes sociais. É mostrar serviço de verdade, entregando o que foi contratado com qualidade e rapidez. Como chegar neste ponto? Algumas dicas são simples de serem seguidas, tais como ser organizado mesmo que seja necessário usar artifícios tecnológicos para isso (listas de tarefas, timers, relógios, blocos de notas, etc), ser disciplinado (hora de trabalhar não é hora de Facebook), ser eficiente (poucas realizações juntas se transformam em grandes feitos) e tantas outras que decerto você deve saber de cor. Então, o que falta para abraçar a tão sonhada liberdade? Falta oportunidade? Muita concorrência?

Ok; o mercado está cheio de sobrinhos, primos e paraquedistas (desculpe-me novamente), mas nem por isso você deve se equiparar ou se preocupar com eles. Da mesma forma que existem estes espécimes, também existem clientes sem noção (com tom pejorativo) acreditando que qualquer layout ou qualquer website custa “cem real”. Para eles, deixe os sobrinhos. Eles vão formar uma boa dupla. Já você, destaque-se, com a qualidade de seu serviço, com a pontualidade de suas entregas, com o preço justo pelo seu trabalho. Bons profissionais sempre encontram bons clientes que entendem o significado do “se você acha meu preço caro, experimente fazer duas vezes”.

Não deixe que a atitude da Marissa Mayer, CEO do Yahoo! mate seu sonho de liberdade. Sua decisão de cortar o home office é somente uma estratégia pontual para colocar ordem na casa e dentro em breve as coisas se ajeitam novamente. Quer queira quer não, o futuro da grande maioria dos profissionais é trabalhar não somente no conforto do lar, mas em qualquer lugar do planeta e a qualquer tempo. E para isso as pessoas precisam entender que, ser profissional vai além da experiência em algo ou ter um canudo embaixo do braço. É necessário realmente realizar.

Pense a respeito e boa sorte.