…a história se tornou lenda, e a lenda se tornou mito…

1) Software Livre é grátis
Um dos mais interessantes mitos do Software Livre é que este é grátis. Isso acontece devido a uma pequena deficiência do idioma inglês que, por ser parco, coloca dentro do mesmo balaio conotações tão diferentes como liberdade e preço. Software Livre não é grátis, é livre. Free Software, como diz o fundador da Free Software Foundation, Richard Stallman, é “free speech,” not as in “free beer”. Resumidamente, free software é Software Livre (soa melhor em nosso belíssimo português, não?) e não software grátis. Existem custos de desenvolvimento, produção, testes, homologação, suporte e assim por diante. A diferença básica é que o espírito de liberdade move a máquina do Software Livre e não o espírito da ganância desenfreada pelo lucro sobre o lucro como as instituições financeiras, por exemplo.

E o Software Livre, mesmo tendo custos como toda e qualquer atividade (inclusive respirar tem custo), este é muitíssimo inferior a qualquer desenvolvimento de software proprietário por dois motivos básicos: como o código é livre, pode-se usar partes já existentes de outros produtos para a criação de novos e também existe uma comunidade que auxilia qualquer um nas maiores empreitadas que se possa imaginar. Isto tudo acarreta redução de custos, mas não a eliminação deste.

2) Se é bom, por quê é grátis?
Primeiro ponto: a pergunta está errada pois, como já comentado, Software Livre não é grátis. Mas como alguns insistem em usar esta pergunta capciosa, vamos à ela. Os parâmetros de bom e grátis aqui usados são relativos para cada situação. Ele pode ser bom para determinada aplicação ou uso e pode não ser para outra. Pode ser mais custoso em determinados casos e pode não ser em outros. Desta forma, usar como regra a afirmação que é bom e é grátis, é um erro que muitos cometem por desconhecimento do assunto. O melhor a fazer é saber se ele é bom para aquilo que se tem em mente e se os custos de implantação, uso, manutenção e etc. valem a pena no final das contas.

Só um detalhe àqueles que não acreditam que coisas boas possam ser grátis (ou com custo baixíssimo): o amor é muito bom e é grátis. Logicamente o verdadeiro amor. Amor de fim de semana não conta 🙂

3) Coisa de “nerd” e estudante
Que termo mais pejorativo e preconceituoso! Não é coisa de “nerd” e estudante; mas é coisa de governo, coisa de empresa, coisa de tudo e de todos. O software como um todo trás em sua história um vínculo enorme com a academia. Nasceu nela, vive nela e nela vai continuar estar. Não existe como tirar o software da academia, das mãos dos estudantes, professores e pesquisadores de todo o mundo. Exemplos como o próprio e-mail e a maior empresa de software hoje existente nasceram das mãos de estudantes e professores da academia. Então usar a expressão “coisa de nerd” para o Software Livre é, sem dúvida, algo impensado e sem nenhum embasamento. Ele é sim aquilo que se apresenta hoje como um modelo viável para empresas como IBM, Oracle, CA, SAP e tantas outras de fornecer à seus clientes, produtos e serviços baseados em altíssima tecnologia, baixo custo e satisfação para ambas as partes.

4) Não é seguro por ser aberto
Bom este mito. Ser fechado ou escondido não é sinônimo de seguro. Como exemplos podemos usar os vírus de computador que atingem sistemas proprietários, fraudes em cartões de crédito, contas bancárias e assim por diante. Para melhor ilustrar, imagine um cofre. Esse cofre possui 50cm X 50cm X 40cm, paredes de aço brasileiro com 10mm de espessura, uma combinação na portinha e um milhão de reais dentro dele. Está a sua vista e nem por isso deixa de ser seguro na tarefa de guardar o milhão que lá está. Se não for conhecida a combinação, somente um maçarico pode resolver o problema (mas você pode usá-lo de criado-mudo também). Segurança não é desconhecer o sistema, não saber o que lá existe, não ver onde está. Segurança de dados é diferente de segurança patrimonial. Não precisamos coibir o acesso aos locais, mas sim a “senha” que abre as portas do céu (ou do inferno, como queiram). Podemos citar o exemplo do projeto OpenSSL que implementa os protocolos SSL e TSL de uma maneira aberta, gratuita e mantém o código-fonte disponível na Internet para qualquer um e nem por isso este é menos seguro que os pacotes proprietários. Veja que não é o acesso ao código que dá a segurança do sistema, mas sim o segredo da chave.

Aproveitando o próprio slogan do projeto do OpenSSL, “para que comprar um kit de ferramentas SSL que é uma caixa preta se pode ter um kit aberto e gratuito”? Que pergunta difícil de ser respondida não?

5) Não possui suporte
Toda a vez que alguém fala este mito, deveria ser processado por empresas como IBM, Oracle e outras por propaganda enganosa. Não conheço uma única empresa de software que não dê suporte a sua criação. Este é o principal mote do negócio de software; tirar a preocupação com paradas e problemas das mãos dos gestores e clientes e passar, por um determinado valor, às empresas que fazem o produto.

Mas este mito tem dois lados. Um para as empresas que contratam e outro para as empresas que desenvolvem. As que contratam precisam procurar seus parceiros e fornecedores baseados, inclusive, nos critérios de suporte e manutenção. As que desenvolvem devem aproveitar nichos de mercado e oferecer produtos e serviços para quem procura.

Em tempo, as empresas do primeiro lado podem me contatar para achar as do segundo lado 🙂

6) Não existe mão-de-obra
O que é chamado mão-de-obra? Técnicos certificados? Ou seriam pessoas capazes de resolver problemas? Bem, nos dois casos o Software Livre tem um número expressivo de profissionais trabalhando, seja em desenvolvimento de sistemas (somente no site SourceForge, um dos maiores portais de desenvolvimento de software no mundo, são mais de 500 mil), seja em suporte ou em aplicações. Além disso, o número de profissionais “certificados” e aqueles que saem da academia com conhecimento em áreas de redes e desenvolvimento de sistemas cresce a cada dia, garantindo assim que a mão-de-obra seja acessível à todos.

7) O Software Livre é pouco escalável
Partindo do pressuposto que escalabilidade é o uso de determinado software em plataformas diferentes, somente para citar um exemplo de Software Livre, o GNU/Linux trabalha em plataformas que vão desde geladeiras e cafeteiras até mainframes, passando por telefones celulares, PDA’s, câmeras digitais, automóveis, sondas espaciais, satélites, sistemas de TV, videogames e uma infinidade de outros dispositivos. Existe solução para todas as necessidades, grandes ou pequenas, simples ou complicadas. E o melhor: todos se conversam normalmente e com uma transparência incrível.

8) Não existem padrões. Uma distribuição é diferente da outra.
Sim, é verdade que uma distribuição é diferente da outra. Como nós também somos diferentes uns dos outros e até os carros são diferentes uns dos outros. Mas isso não quer dizer que renegamos padrões de comunicação. Usamos o português em nosso país. Usamos o inglês para a comunicação com o mundo. Temos um único código morse para todos usarem, temos a matemática que também é una. Isso é o que chamamos de padrão e é aquilo que o Software Livre segue à risca. São 161 distribuições para todos os tipos de uso que se conversam normalmente trocando informações, arquivos e mensagens. Isso acontece, pois o que mais se preza no Software Livre é o padrão de comunicação que deve sempre ser atendido em detrimento de “firulas” e “maquiagens” como a indústria do software proprietário obriga. Não existem “amarras” e muito menos dependência no Software Livre. Existe sim um respeito por leis naturais onde o compartilhamento deve ser sempre o norte da criação e não o monopólio.

Enfim, aqui estão os mitos mais comentados e interessantes. Claro que não são somente estes. Poderia ficar descrevendo dezenas deles que são comentados pelos que veem no Software Livre uma ameaça próxima em várias laudas mas não é o propósito aqui. Ademais, a questão realmente não é a segurança, facilidade de uso, compatibilidade ou eficiência. É somente a questão de cifras em uma conta corrente. Nada mais que isso.

O título deste artigo é uma citação do filme “The Lord of the Rings – The Fellowship Of The Ring”